Banditi
dell’ Arte
Matéria de minha autoria publicada na 6ª edição do Jornal O Vila Mariana
É visível que nada foi impedimento para a realização daqueles trabalhos. Qualquer suporte disponível se prestava para a expressão daquela explosão. O material recuperado – papel de embalagem, papel de jornal, papel higiênico, os muros da instituição, ossos bovinos conseguidos na cozinha e habilmente esculpidos com ferramentas criadas através de pequenos pedaços de metal encontrados. Restos de tecidos, fios pacientemente desfiados de toalhas, sucatas, tudo é passível de ser usado. Ver aquela exposição gera um sentimento libertário.

- “A arte não precisa, necessariamente, ser para, não se volta para uma finalidade específica, mas se oferece como trajeto, como mediadora, como diálogo e como uma das linguagens que experimenta simbolizar a experiência humana, inclusive aquilo que às vezes parece não dar certo”.
POIS ENTÃO, É SIMPLES: FAÇAMOS ARTE.
Nadia Saad
Matéria de minha autoria publicada na 6ª edição do Jornal O Vila Mariana
Em minha última viagem à Paris, visitei
uma exposição que já pelo título me chamou a atenção: Banditi dell’ Arte (Bandidos
da Arte).
Esta exposição, concebida na Itália,
está dividida em duas partes. No primeiro andar estão expostos os trabalhos de
pacientes internados em manicômios italianos do fim do século XIX. Estes
trabalho são de uma época em que pouco se sabia sobre a arte como ferramenta de
suporte para pessoas com problemas psiquiátricos.
E no segundo andar estão trabalhos de
pessoas autodidatas e de prisioneiros condenados, já nos meados do século XX.
A força daqueles trabalhos me
impressionou. Capturou toda a minha atenção e fez meu imaginário “navegar” por
mundos extraordinários. Imediatamente me senti atraída pela obras
expostas sem saber muito bem por que.
Elas falam através de uma
linguagem primordial e direta, acessível a todos. É desnecessário o
esforço intelectual para compreendê-las. Elas nos impressionam, não só pelo aspecto
estético, mas também pela simplicidade da expressão que se contrapõe à
intensidade e exuberância como nos tocam.
São obras de pessoas
que representam o seu universo particular de forma muito pessoal e
distanciada dos padrões habituais ou de instituições culturais reconhecidas.
Todas inusitadas e muitas de dimensões monumentais.
É visível que nada foi impedimento para a realização daqueles trabalhos. Qualquer suporte disponível se prestava para a expressão daquela explosão. O material recuperado – papel de embalagem, papel de jornal, papel higiênico, os muros da instituição, ossos bovinos conseguidos na cozinha e habilmente esculpidos com ferramentas criadas através de pequenos pedaços de metal encontrados. Restos de tecidos, fios pacientemente desfiados de toalhas, sucatas, tudo é passível de ser usado. Ver aquela exposição gera um sentimento libertário.
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Visões de um mundo novo: todo realizado com ossos esculpidos manualmente, não contém cola ou parafusos. Tudo é unido através de encaixes. |
Por apresentar esta qualidade
“marginal”, por muito tempo, este tipo de trabalho não foi considerado um
trabalho de ARTE. Era tido como um trabalho amador.
Somente nos idos de 1940 o artista
plástico Dubufet deu a este tipo do fazer artístico o nome
de Arte Bruta.
Arte Bruta é constituída pelos trabalhos produzidos por pessoas “ignorantes” da
tradição, indiferentes às críticas. Seus criadores são os únicos destinatários
de suas obras. Os criadores de Arte Bruta agem
por instinto, por impulso, pouco se importando se serão vistas, se
carregam algum sentido, e muito menos se serão apreciadas. São expressões
libertas de qualquer julgamento.

Sendo assim, fazer arte não depende de
um dom. Mas antes de uma necessidade interna. Depende sim de um pouco de
coragem para se “abrir um caminho” fechado por preconceitos, medos, e
resistências. O exercício da construção destas veredas para que os
nossos conteúdos encontrem a luz é libertário. O confronto entre o
nosso imaginário, ainda desconhecido e invisível, e a sua materialização no
mundo visível através de formas, palavras, linhas, traz à tona a riqueza
daquilo que nos constitui. Ao ampliar nossos limites e contornos ganhamos uma
confiança maior de nós mesmos.
Tornar visível o sensível invisível nos
configura, nos molda
- “A arte não precisa, necessariamente, ser para, não se volta para uma finalidade específica, mas se oferece como trajeto, como mediadora, como diálogo e como uma das linguagens que experimenta simbolizar a experiência humana, inclusive aquilo que às vezes parece não dar certo”.
POIS ENTÃO, É SIMPLES: FAÇAMOS ARTE.
Nadia Saad
nadiasaadsp@yahoo.com.br
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